A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)

O SBT passou por tempos de glória como a segunda maior emissora do país quando a programação não sofria com tantas mudanças e era sólida. Dentre suas maiores vantagens estava o Cinema em Casa, concorrente da Sessão da Tarde da Globo. O Brasil parava quando a versão de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" de 1971, de Mel Stuart, era a atração. Crianças, adolescentes e adultos tinham o filme como um dos maiores exemplares de filmes feitos para a família, assim como a Globo causava quando exibia "Dirty Dancing - Ritmo Quente". O fato é que de grandes (ou marcantes) filmes foi feita a juventude de muita gente, na qual eu me incluo.

Em 2005, o diretor pop Tim Burton anunciou que faria uma nova versão para a história. Que fique bem claro: uma nova versão baseada na obra original de Roald Dahl, não um remake do filme de 1971. Existe diferença? Muita. Não é desculpa esfarrapada para cobrir as divergências criativas? Nunca! O primeiro filme teve a sorte de encantar gerações principalmente porque o próprio Dahl assumiu o cargo de roteirista. A visão mais aleatória dos personagens ficou clara no filme. Já na produção mais recente, John August readapta a obra, traz Charlie e Willy como co-protagonistas e valoriza mais o desenvolvimento dos personagens secundários.

Por mais que aquela idéia de lição de moral continue mais forte que no primeiro filme, na obra de Tim Burton vemos não só um filme evoluído pelas possibilidades tecnológicas dos grandes estúdios, mas um novo posicionamento de como a narração vai se dando. Vemos flashbacks que trazem a tona questionamentos da vida do chocolateiro; vemos crianças estereotipadas cujas ambições vão se degradando de acordo com o andamento da trama, e mais: vemos pais que compactuam para as mazelas dos filhos. Na realidade, o novo filme serve muito mais como denúncia ácida de quesitos sociais do que como historinha de encantamento.

Burton traz não só sua criatividade, seus travellings incríveis e planos conjuntos curiosos para essa produção. Suas marcas estão presentes. É interessante observar que, mesmo não sendo o filme mais recente, o cineasta refaz suas próprias idéias e as renova sempre que pode. Diversos momentos me lembraram a estética usada em "Sweeney Todd" (2007), bem como no excepcional "Peixe Grande" (2003). Até a escuridão e jeitinho macabro de Burton marcam esse filme tão colorido e exuberante. Willy é praticamente um andrógeno, que assusta pela estranheza e encanta pela infantilidade. As formas como o roteiro se desfaz das crianças chega a ser cruel, mas sempre há um sorriso final de quem assiste.

As diferenças e semelhanças existem, sendo as comparações inevitáveis. Os mais saudosistas talvez achem a simplicidade tecnológica da primeira versão mais adequada para a história, mas já eu prefiro considerar o filme de 2005 uma releitura fantástica da obra. O acompanhamento sonoro, a direção de arte, o figurino, a fotografia e todos os aspectos técnicos que auxiliam Burton neste maravilhoso projeto saem na frente da primeira produção.

Melhor ou pior, o que importa é que mais uma vez "A Fantástica Fábrica de Chocolate" chega para marcar gerações. Revi o filme na companhia da minha sobrinha de 5 anos e consegui ver o brilho nos olhos curiosos dela ao descobrir aquele imenso paraíso traiçoeiro dos doces. Claro que o entendimento de um adulto para uma criança é diferente, mas acredito que, daqui a alguns anos, ela consiga se lembrar deste filme como eu me lembro da primeira versão do chocolateiro Wonka. E que o ciclo se mantenha!

Observação: Não posso deixar de registrar a criatividade máxima de Tim Burton no longa, que me fez desejar vê-lo na direção de algum "Harry Potter". Consigo até imaginar como o filme seria maravilhoso e com um acompanhamento sonoro mais perfeito do que já possui.

3 comentários:

  Anônimo

22 de março de 2008 às 16:09

Diego, eu preciso confessar: nunca vi A Fantástica Fábrica de Chocolate! Dá para acreditar? Quem sabe me dou uma chance justo agora na Páscoa ;)
Beijos, querido

  Flaveetcho

22 de março de 2008 às 21:05

Eu adoraaaava ao cubo estrelado a primeira versão do filme.
Assim, eu lembro que gostava, mas não lembro muito dela. :/


Essa nova também gostei muito e assisti umas 4 vezes... =X

Aproveite o fim de semana, visse?

:D

o/

  Anônimo

23 de março de 2008 às 17:34

Diego, eu nunca assisti a primeira versão desse filme, já a segunda eu vi e adorei, fiquei até com vontade de morar lá naquela fábrica, com aquele rio de chocolate..hehe

tchau, sucesso!