Oscar 2008 - Antes

A maior festa do cinema acontece mais tarde e deve trazer todo o glamour de sempre. Tendo a sorte de poder ser realizado após a greve dos roteiristas, a cerimônia não guarda muitas surpresas quanto aos vencedores. Aliás, o Oscar não guardou surpresas desde os indicados. O evento é tomado de previsibilidade, mas minha esperança de que alguns vencedores surpreendam ainda existe. Enfim, abaixo estão as categorias, os indicados, comentários, para quem eu daria o prêmio e a minha aposta de quem vence. Enjoy!

Melhor Filme

Conduta de Risco
Desejo e Reparação
Juno

Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro

Comentários: O comentário mais relevante nesta categoria foi a aparição de "Juno" na lista. Não que não seja bom, mas não é bom o suficiente para a indicação. Acho que o fervor do cinema independente e a história bonitinha não sustentam um bom filme. Ainda teria trocado "Juno" por "Sweeney Todd", apesar de também não vencer em Melhor Filme, mas pelo menos a produção é infinitamente melhor.

Eu premiaria: Desejo e Reparação
Aposta: Sangue Negro


Melhor Diretor
Jason Reitman - Juno

Joel e Ethan Coen - Onde os Fracos Não Têm Vez
Julian Schnabel - O Escafandro e a Borboleta

Paul Thomas Anderson - Sangue Negro
Tony Gilroy - Conduta de Risco

Comentários: O mesmo do tópico anterior se aplica a este. Jason Reitman não fez nada em "Juno" e é irritante essa indicação inútil. E só de pensar que essa vaga poderia ser do Joe Wright por "Desejo e Reparação" eu fico doente. Ele sim surpreendeu e construiu uma história espetacular.

Eu premiaria: Paul Thomas Anderson - Sangue Negro
Aposta: Joel e Ethan Coen - Onde os Fracos Não Têm Vez


Melhor Ator
Daniel Day-Lewis - Sangue Negro

George Clooney - Conduta de Risco
Viggo Mortensen - Senhores do Crime

Johnny Depp - Sweeney Todd

Tommy Lee Jones - No Vale das Sombras


Comentários
: Minha maior felicidade foi a Academia ter se lembrado do Tommy Lee Jones. Por mais que não chegue nem perto de levar a estatueta para casa, ele está fantástico em "No Vale das Sombras" que, aliás, foi inteiramente esquecido nessa edição do Oscar, visto que o filme é espetacular.

Eu premiaria: Johnny Depp - Sweeney Todd
Aposta: Daniel Day-Lewis - Sangue Negro


Melhor Atriz

Cate Blanchett - Elizabeth: A Era de Ouro

Julie Christie - Longe Dela

Marion Cotillard - Piaf – Um Hino ao Amor

Ellen Page - Juno

Laura Linney - A Família Savage

Comentários: O único receio nesta categoria é que Julie Christie acabe levando o que é por direito da Marion Cotillard. As duas travaram uma disputa única nas premiações que antecederam o Oscar e será o prêmio que eu mais vou tremer quando for anunciado.

Eu premiaria: Marion Cotillard
- Piaf - Um Hino ao Amor
Aposta: Marion Cotillard - Piaf - Um Hino ao Amor


Melhor Ator Coadjuvante
Javier Bardem - Onde os Fracos Não Têm Vez

Casey Affleck - O Assassinato de Jesse James

Tom Wilkinson - Conduta de Risco

Hal Holbrook - Na Natureza Selvagem
Philip Seymour Hoffman - Jogos do Poder

Comentários: Só vi dois dos filmes, então não tenho autoridade ainda para julgar as indicações. Mas é fato que Javier Bardem está fantástico em "Onde os Fracos Não Têm Vez", apesar de achar que ele não está em sua melhor performance. Fato é que ele já é um bom ator por natureza.

Eu premiaria:
Javier Bardem - Onde os Fracos Não Têm Vez
Aposta: Javier Bardem - Onde os Fracos Não Têm Vez


Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Ryan - Medo da Verdade

Cate Blanchett - Não Estou Lá

Tilda Swinton - Conduta de Risco

Ruby Dee - O Gângster

Saoirse Ronan - Desejo e Reparação

Comentários: Não assisti ainda a "O Gângster", mas não entendo a indicação da Ruby Dee. Pelo que falaram ela mal aparece no filme. E o pior: ainda pode ser agraciada pela Academia por causa da idade. Coisas assim eu não consigo engolir, ainda mais quando ameaçam Cate Blanchett.

Eu premiaria:
Cate Blanchett - Não Estou Lá
Aposta: Cate Blanchett - Não Estou Lá


Melhor Roteiro Original
Juno

Conduta de Risco
A Família Savage
Ratatouille
Lars and the Real Girl

Comentários: A palavra "original" tem um peso muito grande. Nenhuma das histórias são originais, mas tudo bem, a gente releva.

Eu premiaria: Conduta de Risco
Aposta: Juno


Melhor Roteiro Adaptado
Desejo e Reparação

Longe Dela
Onde os Fracos Não Têm Vez
Sangue Negro

O Escafandro e a Borboleta

Comentários: Uma categoria bastante difícil de prever quem a Academia premiaria. Há muita chance de "O Escafandro e a Borboleta" levar, já que também virou um queridinho das premiações.

Eu premiaria: Desejo e Reparação
Aposta: Onde os Fracos Não Têm Vez


Melhor Fotografia
Sangue Negro
O Escafandro e a Borboleta
Desejo e Reparação
O Assassinato de Jesse James
Onde os Fracos Não Têm Vez

Comentários: Cinco fotografias belíssimas somente pelos respectivos trailer. As indicações foram justíssimas.

Eu premiaria: Sangue Negro
Aposta: O Escafandro e a Borboleta


Melhor Montagem
O Escafandro e a Borboleta

Na Natureza Selvagem
Onde os Fracos Não Têm Vez

O Ultimato Bourne
Sangue Negro

Comentários: Me surpreendi pela ausência de "Desejo e Reparação" na lista.

Eu premiaria:
Sangue Negro
Aposta
: Sangue Negro


Melhor Direção de Arte
A Bússola de Ouro

Desejo e Reparação
O Gângster

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Sangue Negro

Comentários: Mais uma disputa acirrada. Certamente eu dividiria o prêmio em cinco.

Eu premiaria: Sweeney Todd
- O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Aposta: Sangue Negro


Melhor Figurino
Across the Universe
Desejo e Reparação
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Elizabeth: A Era de Ouro
Piaf – Um Hino ao Amor

Comentários: Eu passei quatro dias pensando nessa categoria, que particularmente eu acho a mais difícil e com os indicados ousados. Não cheguei a conclusão alguma.

Eu premiaria: Desejo e Reparação
Aposta: Elizabeth: A Era do Ouro


Melhor Maquiagem
Norbit

Piaf – Um Hino ao Amor
Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

Comentários: Norbit what?

Eu premiaria: Piaf - Um Hino ao Amor
Aposta: Piaf - Um Hino ao Amor


Melhores Efeitos Visuais
Transformers

Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

A Bússola de Ouro

Comentários: Senti falta de "Harry Potter e a Ordem da Fênix".

Eu premiaria: Piratas do Caribe: No Fim do Mundo
Aposta: Transformers


Melhor Trilha Sonora
Conduta de Risco
Ratatouille
Desejo e Reparação
O Caçador de Pipas
Os Indomáveis

Comentários: A disputa deve ficar entre "Desejo e Reparação" e "O Caçador de Pipas". Os dois merecem. Mas gente, não tem como "Desejo e Reparação" não levar. Acho que foi uma das trilhas sonoras mais fantásticas que eu já ouvi nos últimos anos...

Eu premiaria: Desejo e Reparação
Aposta: Desejo e Reparação


Melhor Canção Original
Falling Slowly - Once
Happy Working Song - Encantada
Raise It Up - O Som do Coração
So Close - Encantada
That’s How You Know - Encantada

Comentários: Só explicando a ausência de musicais como "Sweeney Todd" e "Hairspray". Eles não podem concorrer nesta categoria justamente porque as canções utilizadas não são originais, ou seja, não foram feitas para o filme. Elas precisam ser inéditas e, obviamente, as músicas utilizadas foram dos respectivos musicais da Broadway. Já em relação aos indicados, who cares?

Eu premiaria:
Raise It Up - O Som do Coração
Aposta
: That's How You Know - Encantada


Melhor Som
Transformers
Onde os Fracos Não Têm Vez
O Ultimato Bourne
Ratatouille

Os Indomáveis

Comentários: Filminhos testosterona.

Eu premiaria: Onde os Fracos Não Têm Vez
Aposta: O Ultimato Bourne


Melhor Edição de Efeitos Sonoros
Transformers

Onde os Fracos Não Têm Vez

O Ultimato Bourne
Ratatouille

Sangue Negro

Comentários: A diferença de Som para Edição Sonora é em relação ao processo de filmagem. É que nem Efeito Especial e Efeito Visual. O Especial é feito na hora da filmagem, com elementos em cena, enquanto o visual é feito na pós produção com computador. Melhor Som diz respeito a captação do som em cena, enquanto Edição Sonora é trabalho da pós produção.

Eu premiaria: Ratatouille
Aposta: Ratatouille


Melhor Filme Estrangeiro
12 (Rússia)
Beaufort (Israel)
The Counterfeiters (Áustria)
Katyn (Polônia)
Mongol (Cazaquistão)

Comentários: Ainda teria incluído o filme brasileiro, mesmo que ele não vencesse. Não assisti aos filmes, então...

Eu premiaria: -
Aposta: The Counterfeiters



Melhor Filme de Animação
Ratatouille
Persépolis
Tá Dando Onda

Comentários: Estou esperando "Persépolis" vencer de "Ratatouille", só para chocar mesmo.

Eu premiaria: Ratatouille
Aposta: Ratatouille


Melhor Documentário
No End in Sight
Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience

Sicko - $.O.$ Saúde

Taxi to the Dark Side
War/Dance

Comentários: Não vi nenhum ainda.

Eu premiaria: -
Aposta: Sicko - $.O.$ Saúde


Melhor Documentário em Curta-Metragem
Freeheld

La Corona ("The Crown")
Salim Baba

Sari''''''''s Mother


Melhor Curta-Metragem
At Night

Il Supplente ("The Substitute")

Le Mozart des Pickpockets ("The Mozart of Pickpockets")
Tanghi Argentini
The Tonto Woman


Melhor Curta de Animação
I Met the Walrus

Madame Tutli-Putli
My Love ("Moya Lyubov")
Peter & the Wolf

Sobre o CCR

Trabalhar com Webjornalismo não é fácil. Ao mesmo tempo que a Internet facilita o contato com as pessoas, ela também distancia alguns entendimentos. No CCR, eu preciso lidar com diferentes pessoas de diferentes lugares do Brasil (e do mundo). Além de uma paciência de tartaruga exigida, coisa que não é minha marca pessoal, é necessário que eu consiga uniformizar a produção de conteúdo.

Quem acessa o portal vê tudo muito bonitinho, organizado e pronto. Para conseguir um resultado daqueles, com 100 notícias diárias e matérias variadas para o portal e para o blog, além de atualizações gerais, é muito suor que toda a equipe derrama. Eu faço a parte mais difícil, que é pegar tudo, selecionar, sugerir, corrigir e jogar. Mas para que eu possa fazer minha parte, é preciso que os Rapaduras façam o que lhes é exigido. Como posso ter material para atualizar uma seção qualquer se um ou dois estão com preguiça ou passando por problemas pessoais?

Problemas e outros afazeres todo mundo tem. O problema gigante em relação a isso é que, por sermos todos colegas ou amigos, acabamos ignorando algumas vezes as obrigações como forma de passar despercebido. Mas não passa. Como editor, eu vejo todas as falhas, todas as melhorias em todos os termos, e preciso organizar o trabalho de mais de dez pessoas todas as semanas. São pessoas que contribuem para o site de forma exclusiva e, na maioria das vezes, dedicada. Pessoas que gostam de fazer, assim como eu.

Porém, chega um momento em que ficamos exaustos, que a produção não é a mesma e vários outros problemas aparecem. Em certas ocasiões, a camaradagem da amizade precisa ser deixada de lado para que as coisas voltem a funcionar. Como editor, preciso exigir, senão exigem mais de mim ainda. É desgastante e o motivo desse post não é nem elogiar o trabalho que eu faço no CCR, mas sim conscientizar que ninguém da equipe está sozinho. Cada um trabalha individualmente, mas o CCR é fruto do trabalho geral. Se essa harmonia de produção é quebrada por um ou dois que atrapalham, não há porque sentir orgulho do que se tem ao acessar o portal. Não há orgulho de ter que conseguir as 100 notícias semanais de forma arrastada, praticamente sugando as últimas forças de quem se dispõe a produzir.

Esse post não é nada pessoal, nem direcionado a alguém; porque todo mundo sabe que pode se encaixar nessas reclamações.

Cloverfield (2007)

"Cloverfield - Monstro". Alguém gosta desses subtítulos? Enfim, um dos filmes mais esperados pelos nerds e cinéfilos finalmente chegou. O marketing viral do longa se espalhou durante meses na mídia e o peso do nome de J.J. Abrams na produção fez do filme o primeiro lugar em bilheteria americana. Entretanto, na sua terceira semana de exibição, o longa ficou em nono em arrecadação. O sucesso foi imediato, mas não longevo. No Brasil, a sessão que eu fui tinha umas vinte pessoas, em uma sala que suporta mais umas 300 (this is spaaaaarta! ;x).

Os fanáticos fizeram questão de superestimar "Cloverfield" e a crítica internacional ajudou. Não que o filme seja ruim, mas não vale todos os elogios que recebem, o que me remete ao mesmo que aconteceu com "Juno". Este é uma comédia simples e divertida, mas não merecedora de ser indicada ao Oscar de Melhor Filme (e não foi falta de opção!). Enquanto "Juno" pecava pela normalidade da linguagem e colocava o peso do carisma para Ellen Page, "Cloverfield" traz um roteiro medíocre, mas com um formato cinematográfico relevante, mesmo que não seja novo. A idéia de trocas as câmeras por amadoras e fazer com que os personagens documentem o ataque de um monstro em NY (aham..!) é o que faz o filme ser ligeiramente interessante.

Abrams e o diretor Matt Reeves tornam o que é aparentemente impossível em uma coisa palpável. Não que os efeitos do monstro borrachudo e seus filhotinhos sejam verdadeiros, mas pelo fato de trazer aos personagens e a câmera sempre em mãos uma aproximação e veracidade daquilo. Logo no começo da história, quando não se espera um ataque, vemos primeiro a vida normal de um grupo de amigos. Depois eles escutam um estrondo ao fundo e só quando mais explosões começam a levar NY aos ares que eles, junto com o público, ficam sabendo o que está acontecendo. Reeves não cai no clichê de mostrar o monstro logo de cara, sendo realmente eficaz a forma com que ele aparece. Os gritos, os ataques e uma NY destruída ficam realmente possíveis no mundo contemporâneo.

O que o roteiro erra é ao encontrar nos personagens motivos para acontecer. Enquanto o galãzinho tem o irmão morto pelo monstro, ele procura uma moça por quem é apaixonado que está presa no apartamento. E claro, o apartamento fica na área em que o monstro está. A estratégia não funciona em nenhum momento, visto que não há identificação com o público, caindo em diálogos prontos e maneirismos de romances ultrapassados. Me desculpem os apaixonados, mas quem, em situação de ataque (seja de qual tipo for) vai deixar de evacuar para buscar uma paixonite em casa? Ainda: quem teria ajuda para realizar isso? Só louco (e não de amor!). A paixão funciona quando há um primeiro relacionamento consigo próprio, não com os outros.

E mais questionamentos me ocorrem em relação ao argumento do roteiro. Como seria possível uma câmera e suas imagens gravadas resistirem a um ataque nuclear? Sinceramente não acredito na possibilidade, o que acaba me convencendo de que foi uma média feita pelos realizadores para somente ganhar dinheiro. Claro que "Cloverfield" adiciona uma nova lógica de fazer filmes, como muitos outros fizeram durante a história do cinema, mas no que diz respeito a obra em si, não há destaque, muito menos motivo para ser ovacionado. Um filme penas bom no conceito, o resto a gente joga na boca do monstro.

Meu Monstro de Estimação (2007)

Alguém tem interesse em ver um filme com esse título? Aposto que não. É mais um lamentável título que pode afastar o público adulto e atrair somente as crianças. Mesmo assim, tive a curiosidade de assisti-lo devido a graciosidade do trailer. Bem acompanhado, a sessão estava repleta de crianças curiosas pela história e pais que, ainda hoje, me fazem questionar se estão ali só pelos filhos ou se buscam também uma diversão. Avançando no mercado propício para uma boa bilheteria, "Meu Monstro de Estimação" foi um dos dois filmes feitos para as férias escolares pela Walden Media, sendo o outro o fraquinho "Os Seis Signos da Luz".

A despeito da péssima dublagem em português, o filme é fofíssimo. O monstrinho Crusoé é carismático desde o começo e, quando precisa mudar seu gênio, consegue assustar no ato final da película. A história não traz nada demais, porém tem sucesso com a delicadeza investida pelo diretor Jay Russell na leitura feita do roteiro. A trama é simples e previsível, mas o carisma do pequeno Alex Etel e a harmonia com os efeitos visuais tornam o filme um bom exemplar de fantasia infantil.

A trama não complica quando precisa investir em fatos históricos para ambientar o enredo, não deslocando o público infantil de um bom entendimento. A amizade entre Angus e Crusoé é magnífica, superando a idéia de bichinho de estimação que temos. Os dois vivem desde o momento em que Crusoé nasce de uma forma ímpar, com curiosidade e magia. Quando Crusoé cresce, fica difícil o convívio, e precisa ir para o Lago Ness para poder viver em paz. Entretanto, o carinho que o monstro tem por Angus é enorme e em nenhum momento soa forçado.

Os efeitos visuais são ricos e detalhistas. Em nenhum momento Crusoé perde veracidade. Atrapalhado e divertidíssimo quando bebê, o monstro se tranforma em uma fortaleza quando cresce, e nem por isso perde a graciosidade. As cenas aquáticas são bem conduzidas, mesmo que a reprodução líquida do ambiente perca qualidade pela artificialidade. De qualquer forma, o filme visualmente não deixa nada a desejar, sabendo muito bem o que fazer do começo ao fim, além da cuidadosa mão de Russell para não deixar a peteca cair.

Sinceramente me deu vontade de ver uma seqüência, mas pela cronologia do filme é impossível. Talvez até a magia desse filme se perdesse em uma segunda produção descuidada. Mas a sensação que dá é que a imaginação e a inocência infantil continua até mesmo nos mais velhos. É um filme que é bobo quando tem que ser e fala sério quando precisa solucionar os conflitos. Não é uma obra prima nem um filme imperdível, mas tem qualidade e é cativante.


A Pele (2006)

Foi no curso de Jornalismo que eu descobri a paixão pela Fotografia. Não aquela fotografia convencional que se tira em festas ou em roda com amigos, sorrindo e posando, mas um tipo de foto mais autoral, que explore ambientes e pessoas. Fotografia artística, vamos dizer. A arte em uma foto pode ser expressa de diferentes formas. É que nem sorvete: posso gostar do de chocolate e você não. Fotografia também é assim. Existem imagens que só eu sei o que quero expressar e o público pode não encontrar nada de arte nela.

Foi nessa paixão de disciplinas de Fotografia 1, Fotojornalismo, estágio no Núcleo de Fotografia e monitoria que eu alimentei uma admiração sem limites por Diane Arbus. Altamente expressionista, ela é uma pecadora. Ela provoca em cada fotografia de uma forma estranha, levantando o questionamento do porque queremos continuar observando aquela imagem. Quando soube que uma "cinebiografia" sobre ela seria feita, quase morro de felicidade. A coisa me deu mais espectativas ainda quando eu soube que seria minha diva Nicole Kidman a dar vida a minha musa das fotografias freaks.

"A Pele" foi um filme que não vi no cinema por falta de tempo, e só vi muito tempo depois que saiu em DVD. Não é um filme para ser apreciado por qualquer um. Não por ser difícil, muito pelo contrário, mas por conter certos traços da personalidade de Diane ("Dee-ane, not Di-ane") que podem não ser aproveitadas por um espectador que não conheça a vida dela. As mais de duas horas de projeção traçam apenas uma parcela do que foi a vida fotográfica de Diane, não se comprometendo em ser aquilo um fato, por isso que aspeei cinebiografia no parágrafo anterior. E as coisas começam a ser interessantes daí.

Diane é posta no filme como uma mulher aparentemente feliz, que ajuda o marido a tirar fotos e não tem ambições particulares. Na realidade, foi com Allan Arbus que Diane criou a paixão pela fotografia, muito antes de tirá-las. Ela o auxiliava em seus trabalhos com moda e ficava só nisso. Em uma das cenas, Diane é bombardeada com perguntas sobre quem ela é e o que faz exatamente trabalhando com o marido. Ela lacrimeja e pede licença, sem resposta. É aí que começa o mote para um novo olhar da protagonista. Ela não sabe quem ela é internamente, chegando a declarar para o dedicado Allan que se sente uma completa estranha.

Os mínimos detalhes com que Kidman constrói Diane serão perceptíveis para quem conhece um pouco da vida da fotógrafa. Diane era introspectiva, talvez por isso tenha criado uma obsessão em retratar personagens reais que criassem interesse direto no público. A relação tratada no filme, quando Diane se atrai pelo vizinho misterioso, é apenas um argumento para justificar o porquê de ela começar a fotografar, principalmente fotografar pessoas "estranhas". Uma das mais belas fotos
de Diane na minha opinião é a de um menino no parque segurando uma granada nas mãos. Ela gostava de situações não convencionais ou que significassem alguma coisa para o objeto, para ela e para o público. Era como se quando ela fotografasse alguém estranho, ela tivesse se colocando naquela situação.

No filme, ela se encanta com o mistério de Lionel, que tem um problema genético de hipertricose. A relação entre os dois se desenvolve de maneira detalhada, um invadindo o espaço do outro para poderem se comunicar. Diane chega a dizer que ela se interessa em tirar um retrato dele porque a doença de Lionel a assusta, mas a faz gostar dele. Esse paradoxo é um excelente ponto abordado pelo roteiro, que justifica de uma forma objetiva o prazer que Diane tinha em fotografar seus objetos. No filme, ela conhece pessoas "anormais" e sente que sua vida é diferente perto delas; como se fosse melhor. Diane abdica de momentos com a família e causa prejuízos a ela.

O mais importante da relação com Lionel é que ele a incentivou a fotografar. É tanto que no começo do filme e no final, eles fazem uma ponte de Diane criando uma lista do que queria fotografar (albinos, etc..) e mostra-a chegando a um recinto de nudismo. Para quem conhece as fotos dela, sabe que várias foram tiradas de pessoas nuas, e no final vemos que Diane tem a preocupação de não escolher aleatoriamente os objetos. Ela chega para uma mulher nua e diz que antes de fotografá-la, quer que ela conte algum segredo. É como se assim ela afinasse o perfil do objeto e descobrisse o prazer em fazer um retrato dele. Os retratos que Diane conseguiu durante a vida, seja de travestis ou de gigantes, demonstram a capacidade que ela tinha em se tornar humana, até quando não tinha motivos para ser.

Por esses detalhes que "A Pele" tem seu mérito e merece ser apreciado por quem gosta de arte. Claro que os aspectos técnicos não decepcionam, contando com uma direção delicada com planos belíssimos, além de uma trilha sonora eficaz. As atuações estão absolutas. Nicole Kidman sai da Virgínia Woolf de "As Horas" e entra em Arbus com o mistério que ela tem até hoje. Robert Downey Jr. tem uma performance inigualável e certamente seria redundância dizer que ele é um bom ator. Por tanto detalhismo que eu até compreendo se saírem por aí dizendo que o filme é ruim. Entretanto, por conhecer e admirar Diane Arbus, eu considero uma obra imperdível.

[Spoiler] Não sou de comentar muito sobre cenas importantes para o desenrolar do filme, mas o momento em que Lionel vai com Diane até a praia e entra no mar para nadar, me veio um sentimento de que foi uma 'homenagem' ao suicídio de Diane na vida real. Ela se suicidou em 1971, tomanto barbitúricos e cortando os pulsos. Não sei muito da morte dela, mas acho que para uma fotógrafa que estava virando uma das mais importantes do mundo, a solidão e a incapacidade de viver a tristeza podem ter sido os principais motivos do suicídio. Vi muito desse questionamento da morte dela nessa cena com Lionel, principalmente ela também entrando na água, como que desejasse ir com ele. Me deu a sensação de acumulação, como se ela já julgasse que um dia acabaria daquele jeito.