A Bússola de Ouro (2007)

O Vaticano falou mal e metade dos críticos também. Crendo que sou da parte do público que realmente gostou de "A Bússola de Ouro", acabei indo rever o filme ontem. É, realmente eu gostei. Não pelos efeitos, nem por ter a Nicole Kidman (minha atriz preferida, como muitos já sabem), mas pelo valor como obra cinematográfica que ele tem. Já discuti muito sobre os feitos e erros do longa, e reconheço que não é uma perfeição em termos de roteiro, mas o levantamento da polêmica quanto às religiões e a forma como dá o primeiro gostinho do que é o mundo onde Lyra Belacqua vive é excitante.

A New Line investiu cerca de US$ 180 milhões no longa, para arrecadar, até o fim de semana passado, quase US$ 66 milhões nos Estados Unidos. É um número preocupante para o que foi designado como uma nova franquia (após o sucesso de "O Senhor dos Anéis"), mas ainda acredito que os próximos filmes serão feitos sim, nem que seja com um orçamento mais modesto. O debate no filme acaba sendo mais por parte de quem é fanático por "O Senhor dos Anéis" e acha que "A Bússola de Ouro" não tem força o suficiente para substitui-lo. É como dizer que as histórias de "As Crônicas de Nárnia" são o novo "Harry Potter".

Acho que as quatro fantasias citadas têm seu valor, em maior ou menor evidência. "A Bússola de Ouro" chega com uma proposta muito mais ousada e contrariando a Igreja, do mesmo jeito quando "Harry Potter" foi lançando. A adaptação de Phillip Pullman tem sim uma responsabilidade com a New Line, mas é preciso que as pessoas certas trabalhem na história. Vou falar isso pela milésima vez, mas tem gente que não entende que um filme nunca vai ser fiel a um livro. Por isso ele é "inspirado" na obra literária, já que no cinema pode SIM aproveitar parte da história e usar o processo criativo em outras coisas, mesmo que contrariem a lógica do livro (e os fãs).

O filme é um produto diferente, e como filme "A Bússola de Ouro" peca sim em alguns lances de roteiro, como ser breve e não explicar alguns fatores essenciais para o entendimento do público. Mas acredito que, como primeiro episódio de uma trilogia, não se pode entregar todos os detalhes de uma história logo de cara. Chris Weitz preserva uma parcela significativa de suspense para o próximo filme e dá só um aperitivo nesta primeira aventura de Lyra. Inclusive, achei fantástica a forma como foi retratada a "clínica" de separação de Humanos e Dimons, algo que me remeteu bastante ao processo de condicionamento do filme "Admirável Mundo Novo", outra adaptação de livro.

As críticas à religião são claras e não há edição que faça isso desaparecer. O Magistério é a Igreja, e sou indiferente a isso. Mas hoje em dia fica difícil construir um filme sem tomar uma posição. É a mesma coisa de dizer que um jornalista é imparcial... não, nunca é. Há sempre interesses, dele ou da empresa. No filme, as informações surgem em grandes blocos e é preciso procurar significados além do que é mostrado. É um filme tecnicamente vislumbrante e com atuações interessantes, mas se destaca pelo contexto, por mais que se perca em determinados momentos.

Seja a polêmica qual for, não posso dar um parecer geral sobre a franquia iniciada com "A Bússola de Ouro" vendo só este primeiro filme. Além de precisar ter sucesso como produção solo, é preciso também estar em um contexto. Enquanto produção solo, considero "A Bússola de Ouro" competente e interessante. Dá até vontade de ter um dimon. Não vejo motivos para torcer o nariz, é só um filme bom de fantasia. Vamos esperar o próximo, para ver como a história e o interesse se sustentam.

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